The Project Gutenberg eBook of Santarenaida: poema eroi-comico
This ebook is for the use of anyone anywhere in the United States and
most other parts of the world at no cost and with almost no restrictions
whatsoever. You may copy it, give it away or re-use it under the terms
of the Project Gutenberg License included with this ebook or online
at www.gutenberg.org. If you are not located in the United States,
you will have to check the laws of the country where you are located
before using this eBook.
Title: Santarenaida: poema eroi-comico
Author: Francisco de Paula de Figueiredo
Release date: May 4, 2007 [eBook #21283]
Language: Portuguese
Original publication: Coimbra: Na Regia Officina Typografica, 1792
Credits: Produced by Pedro Saborano. Para comentários à transcrição
visite http://pt-scriba.blogspot.com (This book was
produced from scanned images of public domain material
from the Google Print project.)
*** START OF THE PROJECT GUTENBERG EBOOK SANTARENAIDA: POEMA EROI-COMICO ***
SANTARENAIDA
POEMA EROI-COMICO
DE
Francisco de Paula de Figueiredo.
Dignum laude virum Musa vetut mori.
Horat. l. 4. O. 7.
COIMBRA.
Na Regia Officina Typografica.
ANNO M.DCC.LXXXXII. Com licença da Real Meza da Commissaõ Geral sobre o Exame e Censura dos Livros.
ARGUMENTO.
Ouve em Coimbra um Taverneiro celebre, chamado Joze Rodrigues Santareno.
Este em uma funsão que costuma fazerse pela Pascoa do Espirito Santo em
Santo Antonio dos Olivais, estando muito suado pelo cansaso do caminho,
fartouse de agua, com quem andava divorciado, avia largos anos, e dahi a
poucos minutos caiu morto. Revestem-se estas circumstancias Poeticamente,
e cantase a sua morte.
SANTARENAIDA.
CANTO I.
Pois me pedes, ó Muza, instantemente,
Que emboque a Eroica tuba altisonante,
Que a cego Marte impele os peitos fortes;
Eu que sem forsas teu carater serio
Em versos graves sustentar naõ poso,
Revestido da lépida Talia
C'o a máscara atrevida, para ensaio
Cantarei o Varaõ famijerado,
Que de Baco na guerra com Neptuno
Arvorando do vinho os estandartes,
Depois de ser trovaõ, ser raio acezo,
Que espalhava terror no campo inteiro,
Victima infausta foi por fims de contas
Da vingansa cruel do Rei das aguas.
Axavase em tremendo consistorio
Com toda sua Corte o undozo Jove.
Nas intimas entranhas asoprado
Pela Raiva vorás o consumia
Um fogo abrazador: eraõ com ele
As furias de Acheronte, e os vastos mares
Ao som de sua vós mudos tremiaõ.
Quando depois de longos improperios
Com que a insana paixaõ dezabafára,
De sima do alto solio adamantino
Que sustentaõ seis Doricas colunas
De maculado marmore brilhante
Com bazes de oiro, e capiteis de prata,
Esta fala do peito amargurado
Soltou com grave acento aos seus Magnates.
Sempre eu, Vasalos nobres, de máo grado,
Com justa indignasaõ olhei bramando,
Que ouvese sobre a terra um petulante
Que ouzase de meu povo impunemente
Atacar os direitos mais antigos;
Pois sendo desde muito autorizadas
As nosas dôces aguas para entrarem
As umanas guelas, e os arcanos
Dos buxos penetrar dos omems grandes,
Oje a termos as vêdes reduzidas
De serem so de aprêso aos brutos rudes,
E a despeito de minha autoridade
Condenadas (oh dor!) das esterqueiras,
Das imundas alfujas, das cloacas
Á baixa vergonhoza lavadura.
Conterme já naõ poso; este atrevido
Provar do meu tridente as forsas deve.
Este atrevido he Baco: eu pois pertendo
Punir a sua audacia, guerrealo.
Naõ ade este invazor protervo, e altivo
Zombar ja mais de mim: torsese a verga
Em quanto naõ he tronco: uma faisca
Pasa a incendio vorás, se naõ se apaga.
Mas vós aconselhaime, que eu naõ quero
Que a paixaõ me alucine: o fim he este
Porque oje vos xamei: dos boms conselhos
Quazi sempre saõ filhos os acertos.
Bem como de um enxame susurrante
O inquieto zumbido, se ouve n'aula
O confuzo rumor dos Optimátes.
Escutaõse discursos encontrados,
Diferentes razoins, pensar diverso.
Nisto o Padre Oceano revestido
De Regia Magestade se levanta,
E abrazado em furôr desta arte rompe.
Qual será de vós outros, que arrojado
Se atreva a sustentar nesta asembleia,
Á face do seu Rei, de toda a Corte,
Que a meditada guerra naõ he justa?
Se aqui algum está, se enfatuado
Algum medir comigo as forsas tenta,
A campo saia; os ultimos alentos
C'os golpes da razaõ tirarlhe quero.
Quais mudos troncos Oceano vendo
Pasmados da asembleia os membros todos,
Com mais vivo calor prosegue irado.
Apague as negras axas acendidas
A severa Nemézis: ja naõ devem
Ser punidos os máos: ouzado tale
O iniquo uzurpador o campo alheio:
Perturbemse os direitos... Oh Justisa!
Oh Deuzes imortais!... Eu penso, ó Padre,
Que altercasaõ não sofre o teu projeto.
Deve a guerra fazerse, a guerra he justa.
Porem naõ será máo, reflexiono
Eu agora taõbem, que tu primeiro
Vejas se a boa pás quer antes Baco
Estas coizas compor, largando a pose
Dos direitos que audás nos uzurpára.
Por tanto uma Embaixada mandar deves
Expondolhe as razoins que te estimulão;
E no cazo que a pás ele naõ queira
A guerra se lhe intime em continente.
Asim dise, e aprazendo ao consistorio
Rezolvese Neptuno, e o Tritaõ xama.
Tritaõ que de ser filho se gloria
Do Rei, e da Salacia veneranda:
1 Periclimeno: Neto de Neptuno, de quem recebeu o poder de se metamorfozear.
2 Achelóo: filho de Oceano. Namorouse de Dejanira amante de Hercules.
Hercules combateu com ele metamorfozeado em toiro, arrancoulhe um corno, e
venseu-o.
3 O Velho, &c. Nerêo, filho de Oceano, e pai das Nereides.
6 Vitorino, ou Rino: Aguadeiro de mal semeadas barbas, de gambias
escanxadisimas, de gaguês inexplicavel, e de uma paxôrra inata na condusaõ
de seus carretos.
8 O sitio extenso. Repito o cavaco que dei respetivamente ao largo da
Feira.
9 Andrade. Uma afetada doudice, ou uma continua bebedeira, um tezaõ
arrogante, uma catadura tôrva, e uma eterna bandalhise, saõ os caratéres
que fazem sempre formidavel este fasanhozo Sapateiro.
10 Damiaõ. Ha tres especes de embriaguês; de leaõ, de galo, e de porco. A
1.ª pare os disturbios: a 2.ª as galhofas: a 3.ª o deleixamento. A deste
Pedreiro he da 1.ª espese; e conseguintemente funestos os seus efeitos.
11 Caetano. He um quidam sexagenario, bebado da 2.ª espese, cujas
dezencaixadas xocarrises nos fazem ver, que he um daqueles genios que
sempre estaõ de caninha n'agua.
13 Doutor Rito. Um dos papeloins mais celebres que o ocio nutre. Ainda
que nunca lhe lembrou seguir os estudos, andou nos primeiros tempos de
batina; foi Doutorado por seus mesmos Pais, e na sua propria caza,
servindolhe ums calsoins de riso azul da insignia de capelo. Palra sempre
de autoridade; he sorumbatico de natureza, e quazi sempre anda com
tericia. A sua caza he de orates.
14 Xaves. Bebado da 2.ª espece: he de um notavel dezembaraso, de uma
verbozidade pasmoza, e de uma mania de fazer trovas insofrivel.
15 Antonio do Ministro. Foi em Aveiro um dos Taverneiros principais.
16 Matrona. Uma ejusdem furfuria bem conhecida no Porto pela
alcunha de Rainha.
17 Serralheiro. Irmaõ do Gigante Dramuziando, filhos do Entuziasmo, e da
Fantazia.
CANTO VI.
Geme o Padre Oceano inconsolavel
No fundo de seu peito, e mais aguda
Comesa a renovarse a dôr antiga.
O malogrado fim de seus dezenhos
He um dardo punjente, que as entranhas
Lhe pica, e despedasa; e quem naõ soube
Dos purpureos Erois ceder ás forsas,
Em fim cede á mortal melancolia.
Tanto póde a paixaõ n'uma alma grande!
Fexase triste no tentorio Regio;
Nimguem ouza falarlhe; solitario
Só quer por companhia o pensamento.
Pasadas oito oras em silencio
Manda entrar os seus Cabos: pensativo
Sobre a meza encostado o cotovelo
Na maõ esquerda descansava o rosto,
Gotejandolhe em lagrimas banhadas
As venerandas cans da longa barba.
Amados filhos (vagarozamente
Tendo erguido o semblante macilento
Asim lhes dis) Amados filhos, nunca
Taõ fera atasalhou meu peito forte
A tirana Paixaõ! Nunca minh'alma
Tanto vi afracar!... Fatal derrota
Foi esta que no livro do Destino
Lavrada estava em caratéres negros
Pela férrea maõ da atrós Desgrasa!
Nosas forsas (as forsas invenciveis
Que tem amedrentado o mundo inteiro!)
Abatidas as vedes, destrosadas
Por barbaros Salvajems, por ums brutos
Que nada por si tem mais que fortuna.
He pois tempo, surjâmos acordados
Deste pelago vil de cobardia
Onde a triste vergonha nos asoita.
Para o imigo venser quem se embarasa
Que aja esforso, e valor, ou que aja dolo?
O que forsas naõ daõ, ardís alcansem.
Todo aquele que vir que melhor póde
Ao exito xegar do que intentamos
Meta maõs ao trabalho, dêse présa
E reduza a pedasos esta canga
Que tanto no caxaso nos carrega.
Levantase do asento entaõ pacato
O Velho guardador dos grandes Focas,
E no meio do cónclave luzido
Dest'arte descarrega a consciencia.
Até'gora eu naõ quis a colherada
Nestas coizas meter; vós tendes feito,
Tendes acontecido, sem quererdes
Pedirme, nem ouvir os meus concelhos,
Porem quando a tortura a tal extremo
As coizas vai levando, oporme devo,
E servir a meu Rei, qual poso, e valho.
Os Deuzes, caro Pai, tem-me ensinado
As coizas do por-vir caliginozo,
Eu antevi estes dezastres feios,
Mas eu sem ser forsado naõ predigo.
Por castigo talvês dos Deuzes fose
Ao voso dezacordo.... Porem basta,
Ja tudo se pasou, agora eu mesmo
Tomar á minha conta a empreza quero.
Socega, amado Pai, o Eroi da pinga
De meus tiros o alvo a ser comesa.
Recobrou novos animos o Padre,
E do filho nos ombros sempre firmes
O pezo descansou da grande guerra.
Proteo, que nos ardís exp'rimentado
Fôra sempre instrumento a mil fasanhas;
E cuja calva frente laureada
De importantes facsoins sempre saíra,
Um pouco sobre o cazo consid'rando,
Este acordo felis contente abrasa.
Vaise ter com a Astucia enganadora.
He esta uma rolisa Mosatona,
Que vestida de peles de rapoza,
E empunhando na dextra um rico cetro
Domina sobre os omems; manda, impera
Os indomitos tigres, quais cordeiros.
Em quanto pois bulindo dezenvolta
Lhe xamejaõ os olhos inquietos
Por ouvir o que quer dizerlhe o Velho,
Eu quero, lhe dis ele, que te empenhes
Agora em socorrerme quanto pódes.
De Baco um General meu inimigo,
Xamado por alcunha o Santareno,
Do esforso ou da fortuna socorrido
Tem triumfado das aguas. Oceano
Ja derrotada a flor de sua jente
Suspira inconsolavel. Mas dos livros
Do tremendo Destino irrevogavel
Eu sei que o Santareno ao ferro ao fogo
Naõ tem de dar a vida nas batalhas;
Pois uma pouca d'agua em ora infausta
Bebida, ha de arrancarlhe ao corpo o sprito.
O buzilis porem consiste agora
Em fazerlha beber sem que ele o saiba,
Por quanto este animal temlhe odio eterno.
Todavia a este laso que lhe tramo
Fugir naõ poderá. N'um arrabalde
Naõ lonje da Cidade, brevemente
Farsehá uma funsaõ que ele naõ perde.
Aqui pela canseira do caminho
Moído xegará, suado, e laso.
Forsozo he pedir vinho, isto naõ falha.
Tu pois, que és marralheira, ásde mui prestes
Em sua mesma Môsa transformarte;
E eu tornado em agua facilmente
Na vazilha entrarei que tu lhe deves
Lampeira ministrar. Ele sedento
Nem se he vinho, ou se he agua reparando
A enfuza vazará no grande buxo.
Deste modo a meu salvo os intestinos
Ávido devorando o darei morto,
E terei concluido a grande empreza.
Vamos pois sem demora vem comigo.
Vamos onde quizeres; insofrida
A Astucia respondeu. E logo promptos
Metidos n'uma nuvem negrejante
Tirada por seis Euros rujidores,
Despejando coriscos sentelhantes
Ao orrorozo som d'um trovaõ grande
Sobre a airoza Coimbra em fim baixáraõ.
Mas como do Deleite o Santareno
Estava no país, ordena Próteo
Que a Astucia dali sacar o fasa,
E á Cidade o conduza aonde a trama
Para o pobre cair armar pertende.
Entre os longos Estados da Mentira
Infame Imperatris da maior parte
Da terráquea mole, junto ás fraldas
D'uma verde colina alcantilada,
Sobre um campo espasozo, plano, ameno
A que regaõ d'um rio as mansas aguas,
A galante Cidade encantadora
Do vaidozo Deleite está plantada,
A pálida Doensa, os Desprazeres,
Os Remorsos crueis, a orrivel Morte
O cume senhoreiaõ do alto monte.
Mas o Engano traidor, c'um tolde espêso
Tudo isto ávido encobre á gran Cidade.
Nela tudo he prazer, tudo he descanso.
O povo abitador ao ocio dado
Só cuida em divertirse: o Baile, o Jogo,
Os Cantos, a Luxuria, os Boms-bocados
Aqui abítaõ ledos: pelas ruas
Amplas Satisfasoins andaõ jirando
Ministros de seu Rei: seu Rei parese,
C'o as fraudolentas côres que a Mentira
Arteira sobre modo o tem pintado,
Um rapás mui lousaõ de afavel jesto.
Aqui de toda a parte os povos correm
De seus serios deveres deslembrados
A pedir a este Rei, quais seus dezejos,
Tais as Satisfasoins, que outorga facil.
Aqui a avía vindo o Santareno,
E a meiga sua Espoza a Santarena,
A pasar algums dias satisfeito
Do fim da grande asaõ com que ultimando
A mais árdua vitoria felismente,
Tinha a um nome de impávida memoria
Por entre o ferro, e o fogo alcanse dado.
Mas a doloza Astucia que naõ sabe
Desvelada perder monsaõ de efeito,
Por Próteo instigada, em continente
As cambiantes azas solta aos ares,
Dá nele d'improvizo, e asim o ataca:
Dos remorsos se val acuzadores;
E por uma maneira extravagante
De seu alto saber somente propria,
C'o as cores da razaõ na triste ideia
Seu vil procedimento lhe debuxa.
Faslhe ver com a mesma consciencia
Como he mais justo que um Eroi constante,
Que as desgrasas tratou de bagatela,
Em as prosperidades naõ se infune.
Que naõ dê que falar ao povo rude,
Que murmurante na Cidade o acuza
Pelo ver aos prazeres taõ sensivel.
Que deve a sua caza retirarse,
Tirar do vencimento util proveito,
Naõ confiarse em si, porque inda as Aguas
Estancado naõ tem as forsas vastas.
Aqui do astuto Anibal traslhe á mente
E do Magno Pompeo exemplos vivos,
Que ja devem fazelo escarmentado.
Em fim estas solicitas lembransas
De tal sorte do Eroi fervelhaõ n'alma,
Que em si caindo parte rezoluto.
CANTO VII.
Entretanto em Coimbra amotinada
Era inda o pasmatorio inexplicavel
Por cauza do trovaõ medonho, e orrivel,
Que desde os fundamentos abalára
As altas cazas, e fizera aos sinos
Por si mesmos tocar nos campanarios.
Soava Saõ Jeronimo inda em partes,
E em outras Santa Barbara bemdita
Com espantozos berros; e a vizinha
Á timida vizinha inda contava
Das viboras de fogo côr de enxofre,
Que tortuozas rápidas caíraõ.
Os dois obézos vultos, que sozinhos
Pelas sombras da noite caminhavaõ
Vinhaõ asustadisimos: em bica
Lhes corria o suor, e sem falarem
Só vinhaõ nas camandolas sebentas
Ave Marias mil, e Padre Nosos
Ums apôs outros engolindo a medo.
A caza em fim xegáraõ, e por terra
Depois de averem dado aos Ceos as grasas
Pelos ter dos perigos defendido,
Entaõ uma Sobrinha por miudo
As coizas lhes contou que se pasavaõ.
Diselhes, que depois que eles se foraõ
Ao seu divertimento, na Cidade
Em nenhuma outra coiza se falava
Senaõ no grande risco a que seu Tio
Tinha ficado exposto; que entre dentes
Naõ sei que se rosnava; pois que o Xefe
Inimigo tentava armar ocultas,
Fraudolentas traisoins; que era precizo
Cautela, e mais cautela: acrescentando
Que teve ums sonhos (de que Deos nos livre)
Mesmo áquele respeito asás funestos.
No que naõ creu o Eroi; porem Madama
C'o a noticia em extremo intimidada,
Asentando que ali avía agoiro,
Fês que viese a caza no outro dia
Uma ábil Franxinota a lerlhe a sina.
Asim foi: uma veio asás jocoza
De cabasa, e bordaõ, trincos nas repas
Formados em torcidos papelotes,
Pálidas maõs, agaloadas unhas,
Altas as saias com franjoins de lama,
Mursa nos ombros de ensebado coiro
Com redondas conxinhas matizada,
E um de languidas ábas xapeo ruso
Com varios em redor Santiaguinhos
No alto da cabesa côr de estriga.
Era esta sagacisima, adestrada,
Mestra no ultimo ponto em Chiromancias.
Olhou, examinou, tomou medidas,
Mas viu mil cruzes na polpuda palma
Do magnanimo Eroi, mil entrelinhas
Cortando inteiras linhas, mil figuras,
Mil indicios em fim de agoiro aziago,
De caza em todos toma pose o susto:
Parese cada cara uma laranja.
Porem o Santareno que prezume
Ser em materias tais dezabuzado,
Que nunca em Bruxas creu, ou Lobizomes,
Deita estas coizas para trás das costas.
Trata de divertirse, e em mais naõ pensa.
Ai de quem da memoria o adagio varre
Quem inimigos tem dormir naõ deve!
Xegada estava entaõ uma romajem
Dia de Pentecoste, onde Coimbra
Em pezo aos Olivais sair costuma.
He esta uma funsaõ das mais luzidas
Daqueles arrabaldes; ali entra
Tudo o bom, e bonito; ali se encontra
Todo o recreio de qualquer espece.
Veemse ali jocozisimas Comedias
No amplo teatro do arraial vistozo.
Veemse as Trajedias de orrorozo aspéto
A sena ensanguentarem. D'uma parte
Esgrimese com ansia a espada preta,
D'outra em jogo de páo soa a lambada.
Aqui n'umas mezinhas enfeitadas
Mosas de arromba, que os tafuis arrastaõ,
Vendem d'envolta c'o as xulises torpes
Sédiso doce de mil castas feito.
Ali nas asadeiras xia a carne:
Esta freje a sardinha, aquela os ovos,
Uma vende agua ardente, outra beijinhos.
A fresca como neve limonada
De resto ali se trata: ali triumfante,
Como em brilhante trono, sobre um carro
De cana, parra, e loiros enramado,
Adoradores mil em torno tendo,
Vêse a
sine-qua-non
excelsa Pinga.
E que peito de páo, que alma de palha
Poderá insensivel n'um tal dia
Ao recreio negar entrada franca?
Um omem de bom senso, e que se préza
Ser da onra, e do respeito alumno serio
Ha neste dia de trancar insano
Em masmorra domestica o seu gosto?
Naõ era, o noso Eroi naõ era filho
De pai que tal fizese. Espoza cara,
Dis ele, he nesesario naõ perdermos
Os uzos, e costumes: he xegada
A minha romaria: resta veres
O que eide merendar; pois tu bem sabes
Que nisto da funsaõ consiste o todo.
Mas a crédula Espoza, a quem agoiros
Sempre grande impresaõ fizeraõ n'alma
Aflita com exceso asim lhe argúe:
Onde queres tu ir? Tu serás doido?
Credo! Apelo eu! Lenho da Crus Santa!
Naõ vês, alma de Deus, como danados
Andaõ teus inimigos de alcateia
A ver se te devoraõ? Tu naõ queres
Inda acabar de crer? Eu bem te avizo.
Se queres merendar, merenda em caza,
Deixa lá ir quem vai á romaria.
Bem viste a Franxinota o que te dise
Quando lendo te esteve a
buena dicha
.
Ai, temos conversado, a Deus Senhora;
Quero ir á romaria, tenho dito
(Replíca ele agastado) vá dar ordem
A um fardel em termos: ca por ora
As Aguas nunca me fizeraõ papo:
Naõ temo de nimguem, só de Deus temo.
Com efeito apromtouse uma merenda,
Que para outro qualquer fôra um banquete.
Era uma perna de vitela tenra
Com Anjelico molho temperada
Segundo os boms preseitos que arte ensina;
(Ele a tinha aprendido com boms Mestres)
De prezunto era um grande pratarrazio,
De porco quatro pés, seis orelheiras,
Uma lebre, um leitaõ, sete coelhos,
Ou láparos talvês; afóra o lombo
Que estivera ate'li de vinho d'alhos
Iaõ sinco ou seis pains de imensa mole;
Coroando por fim a obra toda
Xeia de vinho a pel'd'um bode d'ampla
Desmedida grandeza: odre admiravel,
Qual nunca em seus opíparos banquetes
Teve de Bromio o orelhudo Socio.
Mas vem a cada porco um S. Martinho.
Em fim he tempo, os duros Fados instaõ,
E Lachesis da roca por momentos
Vai tirar ao Eroi o ultimo fio.
Da partida se trata: a carga opíma
Da profuza merenda em dois alforjes
Um burro fas vergar: na maõ c'o as contas,
E c'o a borraxa á cinta, o Santareno
A maguada Espoza prende, e abrasa;
E entre doces coloquios até a noite
Seguro se despede. Mizerando
Que ignora que esta noite ao prazo dada
He por ordem dos Ceos a noite eterna!
Entaõ tres vezes que dirije os pasos
Da porta ao lumiar, tres vezes dentro
Se torna perturbado, inquieto, mudo.
Preságo o corasaõ dentro no peito
Agitado lhe bate: mil lembransas
De montaõ o atacaõ: anda, pára,
Nem sabe a decizaõ que tomar deva.
Mas se o que tem de ser, tem muita forsa,
Com eroico valor tanto imbecilho
Rompendo finalmente a estrada avansa.
CANTO VIII.
Vai a ultimarse a empreza. Numen terno,
Que os influxos nos lúgubres cantares
Da Heliconia montanha aos Vates mandas,
Para oje acompanhar meu canto triste
A minha lira d'évano tempéra,
E nas cordas me ensaia os dedos broncos,
Q'a impreterivel ordem dos susésos;
Ja me fas o sinal de pôr aos olhos
A lastimoza sena em que a Desgrasa
Deixou que á vergonhoza cobardia
Cedese o alto valor d'um peito nobre.
O estro se me afraca, o pulso treme...
Eu quizera esquivarme ao pezo enorme...
Ó Muzas ajudaime. Ja sentado
Sobre a relva do campo verdejante
Onde da romaria a jente estava
Noso Eroi dezabotoava impando
Os graúdos botoins da imensa vestia.
Ja mais em ano algum ele sentira
Em funsaõ semelhante entre folgares
Taõ grande desprazer dentro em si mesmo.
Ui lá! q'inda este burro naõ xegase!
Valhame Deus, forte tardansa he esta,
(Dizia ele lá comsigo mesmo)
Nem moso, nem dinheiro, nem garrafa;
Máo está o negocio... E asim rosnando.
Sentado cada vês mais se aflijia.
Levantase, o capote aos ombros puxa,
E gozando do fresco deleitozo,
Que o zefiro das azas sacodia
C'os olhos do concurso em torno gira.
A precavida Astucia, que d'um alto
Todos seus movimentos atalaia,
Entaõ em Môsa feita, de tal sorte
Que a sua em carne, e oso ser parese,
Sae d'entre o barulho, e contra o Amo
Os concertados pasos endireita.
Ora grasas a Deus! Pois inda'gora
He que tu la de vir oras axaste?
(Lhe dis ele agastado) Morto á sede
Ha mais de duas oras aqui posto
Sem xegar inda o vinho! Irra c'o a festa!
Por onde tems andado? Q'he do burro?
Como quem d'um perigo ilezo escapa,
Que fica longo tempo, em dezabafo
Do aflito corasaõ que á présa bate,
Cansado respirando, e da garganta
A fala desprender livre naõ pode;
Asim depois de um pouco estar ant'ele
Descansando arquejante, e fadigada,
D'est'arte entre ipotéticos enfados
Zangada a Mosa apócrifa responde:
Ah Senhor! que me dis? Sabe os trabalhos
Q'ese burro nos deu? Olhe a empreitada
Melhor naõ pôde ser. Mais de oito vezes
Tem caído c'o a carga: eu e o Fernando
Temo-nos visto Gregos: os alforjes
Vem todos lameados; as casoilas,
E frejideiras todas se quebráraõ:
(Cada palavra destas piamente
Creio que era no Eroi uma facada
Segundo as cores mil que ao rosto dava)
Os molhos se verteraõ; finalmente
Caminhando adiante eu vim mais prestes
Somente por pensar que esta tardansa
Lhe daria cuidado. E naõ pequeno,
(Torna ele) esa está boa! Esta somente
A mim he que susede... Paciencia:
Que lhe avemos fazer? Eide matarme?
Naõ; matese o Diabo. Vai depresa,
Que eu tenho muita sede, e estou suado,
Buscar meia canada n'uma enfuza,
Que eu naõ poso esperar que o odre xegue.
E traze do melhor, anda deprésa.
A Astucia mais naõ quis ouvir; e dentro
Do barulho sumindose contente,
O fatidico Vate que a aguardava
No aprazado lugar buscando encontra,
Mutuos parabems ambos se prestaõ,
E sem que dois minutos se esperdisem
Em agua o ávido Velho se transforma,
E na enfuza se mete. Corre, voa
A fatal Portadora. O Santareno
Tanto que a enfuza enxérga, ja sem tino
As guelas abriu voraginozas,
E, sem fazer no gosto algum reparo,
Alambazado, e sofrego d'um trago
Em vês de vinho foi beber a morte.
Dominante entra Próteo. D'improvizo
As entranhas do Eroi rujindo estalaõ:
Com orrorozas vascas treme o corpo:
Os brasos se lhe estrixaõ; torce a boca;
Revirados os olhos se lhe vidraõ,
Os dedos fexa, estende as pernas, morre.
Ah barbaro traidor! Que gloria, ou fama
Defeito taõ atrós, de asaõ taõ crua
Pertendes alcansar? Sempre em meus versos,
Se versos os meus versos sempre forem,
Notado tems de ser de vil, de infame.
Morreu o Santareno. As longas azas
Batendo logo a xocalheira Fama
O boato espalhou por toda a parte.
Alvorósase o Povo, corre, inquire,
E cercaõlhe o cadaver. Escumava,
Ainda quente o corpo; e a Morte pálida
Ja lhe tinha das faces desbotado
O vivo vermelhaõ. Ceos! que terrores,
Que frios sustos, que orrorozos pasmos
Esta morte naõ cauza á gente toda!
Eis uma tumba a multidaõ rompendo
Lá o condús em si levando fitos
Os tristes olhos da pasmada jente,
A funsão se desfás, tudo se abala;
E o jeral sentimento nos semblantes
Dos calados Romeiros vem pintado.
Tal se tira lisaõ destes exemplos!
A caza a tumba xega: o povo a porta
Rodeia em turbilhoins: toda a familia
Frenética rebenta em pranto amargo.
Da caza que resoa sem maneira
Fere as aureas estrelas o alarido.
Ja mais aparesêra em nosos dias
De dezordems taõ funebre um teatro!
Mas na Espoza infeliz que alma ferida
Ja tinha desde muito, entaõ se acaba
De cravar o punhal sangui-sedento.
A fala se lhe toma, as cores perde,
Suspira, desfalese, em fim desmaia.
So a linda Sobrinha, linda mesmo
Como Deus a criou, largando as redeas
Da violenta paixaõ que sofreava,
Insana fere as boxexudas faces,
Fórma gritos d'espanto, e as maõs fexando
Uma n'outra, indizivel xoradeira
Fas nestes termos pouco mais ou menos.
Ai Tio da minh'alma! Bem dizía
Bem diziamos nós que naõ saíse!
Que negra romaria nos foi esta!
E que áde ser de mim?... Oh Ceos, eu morro.
Ai de mim! Ja (quem tanto me queria)
Naõ me ouve aqui xorar mesmo ao pe dele!
Ja naõ fala, morreu... Forte desgrasa,
Senhor, forte desgrasa! Quem diria
Que n'um pouco de vinho fose a morte?
Mas ah! que a mim do sonho inda me lembra
Que ele os tempos atrás de noite teve!
Oh mal-aventurado, triste dia!
Nunca tu... E asim continuava
Abrindo, e com furor fexando as portas.
Em tanto a si tornando a Espoza Eroica
O amortalhado corpo apenas pôde
Só ver, e abrasar, porque fexada
Quis dar á sua magua o dezafogo
Que a todos nos ensina a Natureza.
Naõ ouve caõ nem gato a quem deixase
De custar quatro lagrimas tal perda.
Todos, bom Santareno, te xoráraõ:
Nas mesmas sentidisimas adegas
Ainda oje se veem lagrimejando
Os bojudos toneis, as gordas cubas.
Mas que ternura em mim!... Ah! vinde, vinde
Minhas lagrimas ternas, que tributo
Melhor naõ pagareis á sua memoria.
Oh mal aja o primeiro, que das guerras
A praga fes cair no pobre mundo:
Nefanda praga dos mortais verdugo,
Donde veio a dezordem, donde os roubos,
Donde a desolasaõ, a mortandade.
Ditoza Pás, dos Ceos abitadora,
Serena filha da Ventura eterna,
Que os mizeros umanos tanto alegras;
Se fora mais privado o teu imperio,
Se a execranda Discordia naõ ouzára
Entrar com maõ armada os teus limites,
Lansar neles o orror, destronizarte;
Ainda o meu Eroi de glorias xeio
Alegrára vivendo os nosos dias.
Mas naõ susede asim: est'alma nobre
Foi do sosego seu dezaposada
No melhor de seus anos: os trabalhos
Mais as consumisoins, que de rezerva
Dispostos a atacalo andavaõ juntos,
Fizeraõ nele o tiro; e o bem-fazejo,
O braso liberal que no regaso
Da esfaimada Pobreza amplos tezoiros
Franquear costumava viu-se a ponto
De pegar da espada. Mas que forsa
Naõ era a de seu braso? Que grandeza
A de seu corasaõ robusto, e forte?
Ah! e que Átropos cega, e sem acordo
Condene ao mesmo golpe o poltraõ baixo,
E o magnanimo Eroi, que a Patria onra!
Amigos deste Amigo, se inda o zelo
Vos aquese as asoins, eia xoremos,
Naõ sejamos ingratos, indolentes:
O luto se conhesa, banhe as faces
Um saudozo pranto. Quem mais facil
Satisfês algum dia, que este Amigo
As nosas precizoins? Quando caía
Das nuvems gêlo aspérrimo que o sangue
Nas veias encalhava, quando a negra
Mortal Melancolia o peito inerme
Cruel nos abafava, elle benigno
Naõ nos dava o remedio, apenas via
Junto á porta asomar nosos garotos?
A quem mais beneficios, mais louvores
Poderemos dever, telhas abaixo?
Ai de mim, que naõ poso, ó grande Amigo,
Xorar a tua perda incomparavel
Com pranto de ti digno! Oh s'eu podera
Gastar agora umor de Carpideira,
Noite, e dia regára o teu sepulcro.
Tu es digno de lagrimas eternas.
Eroi sempre invensivel, que fizeste
Notar teus aleivozos inimigos,
Se venserte quizeraõ, c'o a infame,
C'o a dezonroza marca de cobardes;
Varaõ constante, que arrostaste os lanses,
Qual aguia majestoza arrosta os ventos.
Arrepele os cabelos sibilantes,
Que a fronte negra esquálida lhe arreiaõ;
Raivoza a lingua morda, dê bramidos
Maiores que trovoins a magra Inveja;
Tu cantado serás: teu nome egregio
Na letárgica veia entre cardumes
De populares deslembrados nomes
Naufragio naõ fará: em pás descansa,
Seja-te leve a terra que te cobre,
De teus osos a pás nimguem perturbe.
Deixese ao Tempo revolver a roda:
Tems sempre de ser celebre no mundo,
Sem que a fama de Heitor te fasa sombra,
Sem á dita de Achiles ter inveja.
FIM.
Pascitur in vivis livor: post fata quiescit,
Cum sùus ex merito quemque tuetur honos.
Ovid. Am. l. I. E. 15.
*** END OF THE PROJECT GUTENBERG EBOOK SANTARENAIDA: POEMA EROI-COMICO ***
Updated editions will replace the previous one—the old editions will
be renamed.
Creating the works from print editions not protected by U.S. copyright
law means that no one owns a United States copyright in these works,
so the Foundation (and you!) can copy and distribute it in the United
States without permission and without paying copyright
royalties. Special rules, set forth in the General Terms of Use part
of this license, apply to copying and distributing Project
Gutenberg™ electronic works to protect the PROJECT GUTENBERG™
concept and trademark. Project Gutenberg is a registered trademark,
and may not be used if you charge for an eBook, except by following
the terms of the trademark license, including paying royalties for use
of the Project Gutenberg trademark. If you do not charge anything for
copies of this eBook, complying with the trademark license is very
easy. You may use this eBook for nearly any purpose such as creation
of derivative works, reports, performances and research. Project
Gutenberg eBooks may be modified and printed and given away—you may
do practically ANYTHING in the United States with eBooks not protected
by U.S. copyright law. Redistribution is subject to the trademark
license, especially commercial redistribution.
START: FULL LICENSE
THE FULL PROJECT GUTENBERG LICENSE
PLEASE READ THIS BEFORE YOU DISTRIBUTE OR USE THIS WORK
To protect the Project Gutenberg™ mission of promoting the free
distribution of electronic works, by using or distributing this work
(or any other work associated in any way with the phrase “Project
Gutenberg”), you agree to comply with all the terms of the Full
Project Gutenberg™ License available with this file or online at
www.gutenberg.org/license.
Section 1. General Terms of Use and Redistributing Project Gutenberg™
electronic works
1.A. By reading or using any part of this Project Gutenberg™
electronic work, you indicate that you have read, understand, agree to
and accept all the terms of this license and intellectual property
(trademark/copyright) agreement. If you do not agree to abide by all
the terms of this agreement, you must cease using and return or
destroy all copies of Project Gutenberg™ electronic works in your
possession. If you paid a fee for obtaining a copy of or access to a
Project Gutenberg™ electronic work and you do not agree to be bound
by the terms of this agreement, you may obtain a refund from the person
or entity to whom you paid the fee as set forth in paragraph 1.E.8.
1.B. “Project Gutenberg” is a registered trademark. It may only be
used on or associated in any way with an electronic work by people who
agree to be bound by the terms of this agreement. There are a few
things that you can do with most Project Gutenberg™ electronic works
even without complying with the full terms of this agreement. See
paragraph 1.C below. There are a lot of things you can do with Project
Gutenberg™ electronic works if you follow the terms of this
agreement and help preserve free future access to Project Gutenberg™
electronic works. See paragraph 1.E below.
1.C. The Project Gutenberg Literary Archive Foundation (“the
Foundation” or PGLAF), owns a compilation copyright in the collection
of Project Gutenberg™ electronic works. Nearly all the individual
works in the collection are in the public domain in the United
States. If an individual work is unprotected by copyright law in the
United States and you are located in the United States, we do not
claim a right to prevent you from copying, distributing, performing,
displaying or creating derivative works based on the work as long as
all references to Project Gutenberg are removed. Of course, we hope
that you will support the Project Gutenberg™ mission of promoting
free access to electronic works by freely sharing Project Gutenberg™
works in compliance with the terms of this agreement for keeping the
Project Gutenberg™ name associated with the work. You can easily
comply with the terms of this agreement by keeping this work in the
same format with its attached full Project Gutenberg™ License when
you share it without charge with others.
1.D. The copyright laws of the place where you are located also govern
what you can do with this work. Copyright laws in most countries are
in a constant state of change. If you are outside the United States,
check the laws of your country in addition to the terms of this
agreement before downloading, copying, displaying, performing,
distributing or creating derivative works based on this work or any
other Project Gutenberg™ work. The Foundation makes no
representations concerning the copyright status of any work in any
country other than the United States.
1.E. Unless you have removed all references to Project Gutenberg:
1.E.1. The following sentence, with active links to, or other
immediate access to, the full Project Gutenberg™ License must appear
prominently whenever any copy of a Project Gutenberg™ work (any work
on which the phrase “Project Gutenberg” appears, or with which the
phrase “Project Gutenberg” is associated) is accessed, displayed,
performed, viewed, copied or distributed:
This eBook is for the use of anyone anywhere in the United States and most
other parts of the world at no cost and with almost no restrictions
whatsoever. You may copy it, give it away or re-use it under the terms
of the Project Gutenberg License included with this eBook or online
at www.gutenberg.org. If you
are not located in the United States, you will have to check the laws
of the country where you are located before using this eBook.
1.E.2. If an individual Project Gutenberg™ electronic work is
derived from texts not protected by U.S. copyright law (does not
contain a notice indicating that it is posted with permission of the
copyright holder), the work can be copied and distributed to anyone in
the United States without paying any fees or charges. If you are
redistributing or providing access to a work with the phrase “Project
Gutenberg” associated with or appearing on the work, you must comply
either with the requirements of paragraphs 1.E.1 through 1.E.7 or
obtain permission for the use of the work and the Project Gutenberg™
trademark as set forth in paragraphs 1.E.8 or 1.E.9.
1.E.3. If an individual Project Gutenberg™ electronic work is posted
with the permission of the copyright holder, your use and distribution
must comply with both paragraphs 1.E.1 through 1.E.7 and any
additional terms imposed by the copyright holder. Additional terms
will be linked to the Project Gutenberg™ License for all works
posted with the permission of the copyright holder found at the
beginning of this work.
1.E.4. Do not unlink or detach or remove the full Project Gutenberg™
License terms from this work, or any files containing a part of this
work or any other work associated with Project Gutenberg™.
1.E.5. Do not copy, display, perform, distribute or redistribute this
electronic work, or any part of this electronic work, without
prominently displaying the sentence set forth in paragraph 1.E.1 with
active links or immediate access to the full terms of the Project
Gutenberg™ License.
1.E.6. You may convert to and distribute this work in any binary,
compressed, marked up, nonproprietary or proprietary form, including
any word processing or hypertext form. However, if you provide access
to or distribute copies of a Project Gutenberg™ work in a format
other than “Plain Vanilla ASCII” or other format used in the official
version posted on the official Project Gutenberg™ website
(www.gutenberg.org), you must, at no additional cost, fee or expense
to the user, provide a copy, a means of exporting a copy, or a means
of obtaining a copy upon request, of the work in its original “Plain
Vanilla ASCII” or other form. Any alternate format must include the
full Project Gutenberg™ License as specified in paragraph 1.E.1.
1.E.7. Do not charge a fee for access to, viewing, displaying,
performing, copying or distributing any Project Gutenberg™ works
unless you comply with paragraph 1.E.8 or 1.E.9.
1.E.8. You may charge a reasonable fee for copies of or providing
access to or distributing Project Gutenberg™ electronic works
provided that:
• You pay a royalty fee of 20% of the gross profits you derive from
the use of Project Gutenberg™ works calculated using the method
you already use to calculate your applicable taxes. The fee is owed
to the owner of the Project Gutenberg™ trademark, but he has
agreed to donate royalties under this paragraph to the Project
Gutenberg Literary Archive Foundation. Royalty payments must be paid
within 60 days following each date on which you prepare (or are
legally required to prepare) your periodic tax returns. Royalty
payments should be clearly marked as such and sent to the Project
Gutenberg Literary Archive Foundation at the address specified in
Section 4, “Information about donations to the Project Gutenberg
Literary Archive Foundation.”
• You provide a full refund of any money paid by a user who notifies
you in writing (or by e-mail) within 30 days of receipt that s/he
does not agree to the terms of the full Project Gutenberg™
License. You must require such a user to return or destroy all
copies of the works possessed in a physical medium and discontinue
all use of and all access to other copies of Project Gutenberg™
works.
• You provide, in accordance with paragraph 1.F.3, a full refund of
any money paid for a work or a replacement copy, if a defect in the
electronic work is discovered and reported to you within 90 days of
receipt of the work.
• You comply with all other terms of this agreement for free
distribution of Project Gutenberg™ works.
1.E.9. If you wish to charge a fee or distribute a Project
Gutenberg™ electronic work or group of works on different terms than
are set forth in this agreement, you must obtain permission in writing
from the Project Gutenberg Literary Archive Foundation, the manager of
the Project Gutenberg™ trademark. Contact the Foundation as set
forth in Section 3 below.
1.F.
1.F.1. Project Gutenberg volunteers and employees expend considerable
effort to identify, do copyright research on, transcribe and proofread
works not protected by U.S. copyright law in creating the Project
Gutenberg™ collection. Despite these efforts, Project Gutenberg™
electronic works, and the medium on which they may be stored, may
contain “Defects,” such as, but not limited to, incomplete, inaccurate
or corrupt data, transcription errors, a copyright or other
intellectual property infringement, a defective or damaged disk or
other medium, a computer virus, or computer codes that damage or
cannot be read by your equipment.
1.F.2. LIMITED WARRANTY, DISCLAIMER OF DAMAGES - Except for the “Right
of Replacement or Refund” described in paragraph 1.F.3, the Project
Gutenberg Literary Archive Foundation, the owner of the Project
Gutenberg™ trademark, and any other party distributing a Project
Gutenberg™ electronic work under this agreement, disclaim all
liability to you for damages, costs and expenses, including legal
fees. YOU AGREE THAT YOU HAVE NO REMEDIES FOR NEGLIGENCE, STRICT
LIABILITY, BREACH OF WARRANTY OR BREACH OF CONTRACT EXCEPT THOSE
PROVIDED IN PARAGRAPH 1.F.3. YOU AGREE THAT THE FOUNDATION, THE
TRADEMARK OWNER, AND ANY DISTRIBUTOR UNDER THIS AGREEMENT WILL NOT BE
LIABLE TO YOU FOR ACTUAL, DIRECT, INDIRECT, CONSEQUENTIAL, PUNITIVE OR
INCIDENTAL DAMAGES EVEN IF YOU GIVE NOTICE OF THE POSSIBILITY OF SUCH
DAMAGE.
1.F.3. LIMITED RIGHT OF REPLACEMENT OR REFUND - If you discover a
defect in this electronic work within 90 days of receiving it, you can
receive a refund of the money (if any) you paid for it by sending a
written explanation to the person you received the work from. If you
received the work on a physical medium, you must return the medium
with your written explanation. The person or entity that provided you
with the defective work may elect to provide a replacement copy in
lieu of a refund. If you received the work electronically, the person
or entity providing it to you may choose to give you a second
opportunity to receive the work electronically in lieu of a refund. If
the second copy is also defective, you may demand a refund in writing
without further opportunities to fix the problem.
1.F.4. Except for the limited right of replacement or refund set forth
in paragraph 1.F.3, this work is provided to you ‘AS-IS’, WITH NO
OTHER WARRANTIES OF ANY KIND, EXPRESS OR IMPLIED, INCLUDING BUT NOT
LIMITED TO WARRANTIES OF MERCHANTABILITY OR FITNESS FOR ANY PURPOSE.
1.F.5. Some states do not allow disclaimers of certain implied
warranties or the exclusion or limitation of certain types of
damages. If any disclaimer or limitation set forth in this agreement
violates the law of the state applicable to this agreement, the
agreement shall be interpreted to make the maximum disclaimer or
limitation permitted by the applicable state law. The invalidity or
unenforceability of any provision of this agreement shall not void the
remaining provisions.
1.F.6. INDEMNITY - You agree to indemnify and hold the Foundation, the
trademark owner, any agent or employee of the Foundation, anyone
providing copies of Project Gutenberg™ electronic works in
accordance with this agreement, and any volunteers associated with the
production, promotion and distribution of Project Gutenberg™
electronic works, harmless from all liability, costs and expenses,
including legal fees, that arise directly or indirectly from any of
the following which you do or cause to occur: (a) distribution of this
or any Project Gutenberg™ work, (b) alteration, modification, or
additions or deletions to any Project Gutenberg™ work, and (c) any
Defect you cause.
Section 2. Information about the Mission of Project Gutenberg™
Project Gutenberg™ is synonymous with the free distribution of
electronic works in formats readable by the widest variety of
computers including obsolete, old, middle-aged and new computers. It
exists because of the efforts of hundreds of volunteers and donations
from people in all walks of life.
Volunteers and financial support to provide volunteers with the
assistance they need are critical to reaching Project Gutenberg™’s
goals and ensuring that the Project Gutenberg™ collection will
remain freely available for generations to come. In 2001, the Project
Gutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secure
and permanent future for Project Gutenberg™ and future
generations. To learn more about the Project Gutenberg Literary
Archive Foundation and how your efforts and donations can help, see
Sections 3 and 4 and the Foundation information page at www.gutenberg.org.
Section 3. Information about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation
The Project Gutenberg Literary Archive Foundation is a non-profit
501(c)(3) educational corporation organized under the laws of the
state of Mississippi and granted tax exempt status by the Internal
Revenue Service. The Foundation’s EIN or federal tax identification
number is 64-6221541. Contributions to the Project Gutenberg Literary
Archive Foundation are tax deductible to the full extent permitted by
U.S. federal laws and your state’s laws.
The Foundation’s business office is located at 809 North 1500 West,
Salt Lake City, UT 84116, (801) 596-1887. Email contact links and up
to date contact information can be found at the Foundation’s website
and official page at www.gutenberg.org/contact
Section 4. Information about Donations to the Project Gutenberg
Literary Archive Foundation
Project Gutenberg™ depends upon and cannot survive without widespread
public support and donations to carry out its mission of
increasing the number of public domain and licensed works that can be
freely distributed in machine-readable form accessible by the widest
array of equipment including outdated equipment. Many small donations
($1 to $5,000) are particularly important to maintaining tax exempt
status with the IRS.
The Foundation is committed to complying with the laws regulating
charities and charitable donations in all 50 states of the United
States. Compliance requirements are not uniform and it takes a
considerable effort, much paperwork and many fees to meet and keep up
with these requirements. We do not solicit donations in locations
where we have not received written confirmation of compliance. To SEND
DONATIONS or determine the status of compliance for any particular state
visit www.gutenberg.org/donate.
While we cannot and do not solicit contributions from states where we
have not met the solicitation requirements, we know of no prohibition
against accepting unsolicited donations from donors in such states who
approach us with offers to donate.
International donations are gratefully accepted, but we cannot make
any statements concerning tax treatment of donations received from
outside the United States. U.S. laws alone swamp our small staff.
Please check the Project Gutenberg web pages for current donation
methods and addresses. Donations are accepted in a number of other
ways including checks, online payments and credit card donations. To
donate, please visit: www.gutenberg.org/donate.
Section 5. General Information About Project Gutenberg™ electronic works
Professor Michael S. Hart was the originator of the Project
Gutenberg™ concept of a library of electronic works that could be
freely shared with anyone. For forty years, he produced and
distributed Project Gutenberg™ eBooks with only a loose network of
volunteer support.
Project Gutenberg™ eBooks are often created from several printed
editions, all of which are confirmed as not protected by copyright in
the U.S. unless a copyright notice is included. Thus, we do not
necessarily keep eBooks in compliance with any particular paper
edition.
Most people start at our website which has the main PG search
facility: www.gutenberg.org.
This website includes information about Project Gutenberg™,
including how to make donations to the Project Gutenberg Literary
Archive Foundation, how to help produce our new eBooks, and how to
subscribe to our email newsletter to hear about new eBooks.